sexta-feira, 11 de setembro de 2009

JERÔNIMO SAVONAROLA, O JOÃO BATISTA DA IGREJA PROTESTANTE.





Jerônimo Savonarola,
o João Batista da
Reforma Protestante

Florença (cidade da Itália), novembro de 1491. O grande sino da Catedral de Duomo acaba de bater meia-noite.
Após distender pela décima segunda vez a corda para produzir a última badalada, do alto da torre um homem põe-se a observar as sombras que chegam de várias direções e se reúnem no centro da praça ou sobre os degraus da catedral.
São pessoas que vêm dormir ali para, no dia seguinte, garanti­rem um lugar no interior da grande Duo­mo.
- Celebrar-se-á casamento de nobres?

Algum rei será coroado?

O Papa visitará a catedral?

- Não.

Jerônimo Savonarola vai pregar.

O homem que observa do alto da torre sabe que o quadro social e espiritual da Florença do tempo de Savonarola é quase o mesmo em toda a Itália: o luxo, a ostenta­ção dos ricos em contraste com a miséria dos pobres, a iniqüidade dos homens, as violações dos direitos humanos, os adulté­rios, a idolatria, as blasfêmias e a decadên­cia da dominante Igreja Romana, cheia de vícios e pecados.
Por este motivo, já há al­gum tempo Savonarola tornou-se no púlpi­to uma tocha ardente e cheia de indigna­ção, um João Batista precursor de uma re­forma religiosa que se avizinha.


Alicerçado no Evangelho, prega com tanto fervor e tão cheio do Espírito, que suas palavras são como espadas nuas, destramente maneja­das contra o pecado, setas de fogo lançadas ao centro dos corações corrompidos.

E toda a Florença acorre para escutar, deslumbrada e temerosa, os sermões de Jerônimo, que em seus juízos corajosos e feri­nos não livra nem mesmo os nomes do re­gente da cidade e do Papa, principais res­ponsáveis pela devassidão do povo e da Igreja Romana.


Jerônimo Savonarola nasceu na cidade italiana de Ferrara, no ano de 1452.
Seus pais queriam que ele ocupasse o lugar de seu avô paterno, que era médico na corte do Duque de Ferrara.
Porém o estudo das obras de alguns teólogos e, sobretudo a contínua leitura das Escrituras desviaram-no da Medicina e inclinaram o seu coração para os caminhos de Deus.
Quando tinha 22 anos de idade, o desprezo dos Strozzi - uma orgulhosa família italiana que não o achou digno de desposar uma de suas fi­lhas, e a decadência espiritual da cidade de Ferrara levaram-no a fugir para Bolo­nha, a pé.
Nessa época seu entendimento já fora dilatado pelas verdades divinas, e ele aprendera a orar. Essa conversação es­piritual com Deus abrandou a amargura e a desilusão de sua alma.
E o Senhor suave­mente se foi apossando do seu coração.
Em Bolonha erguiam-se os altos muros do Convento de São Domingos.
Ali Savonarola se apresentou impelido pelo desejo de abraçar a vida monástica. Porém não se achava digno de ser monge, e por isso pe­diu que o aceitassem como um dos encar­regados da limpeza do convento.
Mas logo suas grandes virtudes pessoais o distingui­ram. Como uma fonte que mansamente nasce o desejo de continuamente estar na presença de Deus brotara no seu coração, e agora era como um grandioso e indomável rio, que livremente corre para o mar.

Savonarola era humilde, obediente e sincero.

O tempo que lhe sobrava, após as várias ocupações, empregava-o na literatu­ra, na oração e na contemplação da sublimidade do amor de Deus. Ao acordar pela manhã, elevava o seu coração em súplicas, ofertando ao Senhor as primícias do dia, e pedindo-lhe que estivesse sempre com ele.

Os superiores do convento passaram a ver naquele rapaz um futuro grande ho­mem da Igreja. Sua inteligência e, sobretu­do seu fervor religioso levaram esses ho­mens a não medirem esforços para comple­tar sua formação intelectual e religiosa.
O moço tinha sempre o coração cheio de fé, a alma livre das paixões humanas, e o pensa­mento continuamente ocupado com o amor de Deus.
"Senhor, não reine em mi­nha alma outro além deli!" - pedia ele em suas orações.

O lugar onde se prostrava ho­ras a fio em oração, ficava geralmente mo­lhado de suas lágrimas.

Seu admirável progresso nos estudos valeu-lhe a nomeação de professor de Filo­sofia, função que exerceu até a data de sua transferência para o convento de Ferrara.

“Ao chegar ali, dentro dos silenciosos muros do mosteiro de sua cidade natal, entregou-se com mais assiduidade ao jejum” à ora­ção e ao estudo da Palavra de Deus, pois desejava alcançar o que sempre fora a mais ardente aspiração de sua mocidade: tor­nar-se um inflamado pregador, um arauto do Céu a anunciar, face á impiedade do povo, que o dia da vingança do Senhor es­tava próximo.

Porém suas primeiras tenta­tivas de pregar em Ferrara resultaram em fracasso. Não acostumado a ouvir pregações que denunciassem e reprovassem abertamente os seus pecados, o povo de Ferrara não deu a menor atenção às pala­vras daquele moço que se propunha a ser "o chicote do Senhor".

Jerônimo foi obri­gado a dedicar-se inteiramente à instrução dos noviciados, repetindo para si mesmo as palavras de Jesus:
"Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua ca­sa" (Mateus 13.57).

Porém os sete anos que passara no con­vento de Bolonha e as pregações que fizera ali haviam confirmado que Deus o usaria nos púlpitos das maiores catedrais da Itá­lia, e seus ataques formidáveis contra a corrupção do povo e da Igreja Romana pre­parariam em toda a Europa o caminho para a futura Reforma Protestante.

Insatisfeito com a pequena repercussão que suas pregações haviam obtido entre os ouvintes que freqüentavam a igreja do con­vento de Ferrara, Savonarola desejou ar­dentemente mudar-se para a mais desta­cada cidade do Renascimento: Florença. Ali foi muito bem recebido pelos religiosos do Convento de São Marcos.
Naquela época, Florença cultuava a beleza da pintura, da escultura, da poesia e da oratória.
Os oradores discursavam preocupados em tornar a frase pomposa, rica e elegantemente floreada.
Além do mais, para se triunfar no púlpito ou na tribuna, era necessário possuir boa estatura física, além de bela aparência, e fazer uso de atitudes elegantes.

Savonarola era a antítese de tudo isto: alto, magro, nariz grande, lábios grossos, boca imensa, atitu­des desgraciosas e enérgicas.

Porém estas desvantagens físicas não impediram que ele se tornasse o maior pregador de sua época.
O intenso brilho dos seus olhos azuis impressionava a todos os que o contempla­vam. Parecia que ele estava sempre a que­rer olhar dentro das almas, ou a contem­plar os longos rumos ocultos, os largos iti­nerários dos corações.

Savonarola começou a pregar em Florença seguindo um estilo diametralmente oposto ao dos oradores da época, desper­tando assim a curiosidade de muitos, ini­cialmente para a sua maneira de usar da palavra, depois para a significação do que dizia.
Rejeitando as burilações retóricas, numa linguagem espontânea e enérgica, pregava diante de uma assistência cada vez mais admirada do seu modo direto de ir ao assunto.
Impressionava a todos o fer­vor de suas palavras.
Através das pregações, Savonarola foi conquistando a cidade de Florença.
No tempo em que os rijos ventos do pecado so­pravam sobre as vidas conturbadas e escu­ras dos florentinos, sua voz fez com que a Palavra de Deus brilhasse cada vez mais clara e resplandecente, nos corações.

Oskar Von Wertheimer observou que "suas pregações produziam um efeito indescrití­vel, acontecendo freqüentemente aos que as copiavam declararem, à margem dos ma­nuscritos, haver-lhes o entusiasmo ou as lágrimas impedido de continuarem a es­crever".

Falando, certa vez, no púlpito da Cate­dral de Florença, Savonarola disse que em breve morreriam o Papa Inocêncio VIII e Lourenço de Médicis, e que a Itália seria invadida por Carlos VIII, da França.

Esses vaticínios iriam ser confirmados posterior­mente, aumentando o seu prestígio diante do povo.
Ao saber dessas previsões, o Go­vernador Lourenço de Médicis, furioso, or­denou a alguns nobres de Florença que procurassem mostrar a Savonarola que suas profecias punham sua vida em perigo.

O pregador escutou-os friamente, e em se­guida mandou dizer a Lourenço que ele de­via se arrepender dos seus pecados.

Lou­renço concluiu que não conseguiria im­pressionar o monge através de ameaças, e tratou de conquistar-lhe a simpatia.
Savo­narola era então Prior do Convento de São Marcos, e não se impressionou diante dos muitos favores que o governador subita­mente passou a fazer àquela comunidade religiosa.

Apercebendo-se da inutilidade de seus métodos, e vendo que Savonarola conti­nuava a atacar sua vida tortuosa e desre­grada, Lourenço resolveu fazer calar o grande pregador utilizando-se de sua pró­pria arma: a oratória.
Encarregou Frei Ma­riano de Gennazano, um dos maiores ora­dores sacros florentinos, de pronunciar al­guns sermões contra o Prior do Convento de São Marcos.

Foi à grande vitória da ora­tória sem artifícios sobre a oratória artificiosa.
Savonarola impressionou o povo e venceu Frei Mariano fazendo uso de uma eloqüência espontânea e simples.

Tempos depois, Lourenço de Médicis mandou cha­má-lo. Estava à morte. Ao vê-lo, disse o go­vernador:

"Mandei chamá-lo por ser o se­nhor o único monge honrado que conheço." Na conversa que tiveram sobre salvação, discordaram em alguns pontos, e Savona­rola, depois de muito insistir, retirou-se, deixando o moribundo "a sós com Deus e sua consciência".

Com a morte de Lourenço, o não menos corrupto Pedro de Médicis ocupou o seu lugar. Savonarola redobrou sua campanha em prol da regeneração dos costumes.

Sob os efeitos produzidos por suas pregações, ladrões e usuários procuravam regenerarem-se, mulheres abandonavam o luxo e muitos fugiam à devassidão, almejando viver se­gundo os preceitos bíblicos.
Sempre com a Santa Palavra nos lá­bios, o grande homem de Deus ia pregando com simplicidade, e mudando, espantosa e radicalmente, os costumes do povo italia­no.
Às vezes surgiam em suas pregações metáforas como esta:
"Deixam o ouro pelo cobre, o cristal pelo vidro, as pérolas pelo barro, os que pelo barro do mundo, pelo vi­dro da vaidade e pelo cobre destes bens profanos e transitórios desprezam o ouro maciço, o cristal puro e as pérolas do amor de Deus e dos bens eternos."
Nem mesmo o clero escapou de sua sin­ceridade, que não conhecia limites. Savonarola atacou frontalmente os vícios dos religiosos de sua época:

- "Se vós soubésseis as coisas repugnantes que eu sei!" - dizia ele diante da multidão que o ouvia surpresa.
E então, corajosamente, sentava a igreja dominante no banco dos réus e a julgava:

"Vem cá igreja infamada! Ouve o que te diz o Senhor. Dei-te formosas vesti­mentas, e tu exerceste com elas a idola­tria.
Com os vasos preciosos tens alimenta­do o teu orgulho, tens profanado o que an­tes era sagrado; a sensualidade te precipi­tou na vergonha.
És pior que uma besta; é um monstro repugnante...
Ergueste uma casa de imoralidade e te converteste, em toda parte, numa casa de perdição. Tomaste assento no trono de Salomão e passaste a atrair o mundo às tuas portas:
“Quem tem dinheiro entra, e pode fazer tudo o que quer, mas quem não tem di­nheiro, mas deseja o bem, é desconsiderado e expulso."


Esse julgamento chegou ao conheci­mento do próprio papa Alexandre VI su­cessor de Inocêncio VIII, e um dos maiores responsáveis pelas desordens clericais.

Já há algum tempo os sermões de Savonarola vinham incomodando o Papa, que procu­rou lançar mão de todos os meios possíveis para fazer o monge calar.
Travou-se então uma luta ferrenha, que culminou na exco­munhão, prisão, tortura e morte de Savo­narola.

Antes, sua sinceridade e guerra decla­rada à devassidão, desonestidade e hipo­crisia já o haviam indisposto seriamente com alguns dos grandes senhores da Itália.
Um dos casos mais sérios ocorreu durante uma de suas pregações em Bolonha, quan­do a mulher de Bentivoglio, um dos ho­mens mais importantes dessa cidade, en­trou na igreja provocadoramente, com o intuito de perturbar o pregador e fazê-lo perder o curso do sermão. Imediatamente, e sem medir conseqüências, Savonarola bradou do alto do púlpito:

- Vede aí, irmãos,_eis o demônio que vem perturbar a Palavra de Delis.

A frase ecoou por todo o recinto como uma chicotada.
Imediatamente os guardas de João Bentivoglio empunharam as espa­das e investiram contra o pregador, mas fo­ram interceptados pela maioria dos que ouviam a pregação.
Savonarola escapou - milagrosamente de morrer naquele instan­te.
Mas, apesar dos conselhos que lhe de­ram para que fugisse imediatamente de Bolonha, ele permaneceu na cidade até pronunciar o seu último sermão ali, quan­do, no mesmo lugar onde o haviam amea­çado de morte, falou desafiadoramente:

- Partirei esta tarde para Florença, sem outra companhia além do meu bordão de peregrino. Alojar-me-ei em Pianora. Se al­guém quer ajustar contas comigo, que ve­nha antes de minha partida. Entretanto, eu não morrerei em Bolonha, mas em outro lugar.

Ele sabia que os poderosos não o deixa­riam viver por muito tempo.
Após sua morte, a Itália seguiria o seu caminho de “corrupção e infâmias internas”, mostrando, porém, ao mundo, uma face hipócrita de pureza e religiosidade.
Mas ele sabia tam­bém que não poderia parar de pregar.
Combateria o pecado até momentos antes de ser enforcado e queimado.
E seu exem­plo floresceria no solo da Europa e do mun­do.


Não acreditando que seus auxiliares pudessem ajudá-lo a mudar radicalmente os costumes do povo, Savonarola apelou para a sinceridade dos meninos, que saíam pelas ruas da cidade fazendo batidas siste­máticas, surpreendendo os adultos em ati­tudes pecaminosas, e levando para ser queimado tudo o que conseguissem achar em matéria de enfeites, cabelos postiços, livros e quadros indecentes.

Conta-se que os meninos abordavam as senhoras nas ruas e diziam, cheios de convicção:
- "Da parte de Jesus Cristo, Rei de nossa cidade, nós te ordenamos a abandonar todas essas vaidades."

Savonarola encorajava os me­ninos a prosseguirem com a "Reforma dos costumes".
Sobre imensas fogueiras - as fogueiras da vaidade, como costumavam chamá-las -, obras de arte, jóias, espelhos, livros e toda sorte de objetos considerados pecaminosos eram amontoados e queima­dos.


Quando as tropas de Carlos VIII, rei da França, invadiram a Itália, mais uma de suas profecias se cumpriu.
Isso contribuiu para que a inveja e o ódio do Papa Alexan­dre VI se acendesse contra o monge de ma­neira mais violenta que o fogo ateado sobre as "fogueiras da vaidade".

Além do mais, as palavras chamejantes de Savonarola haviam continuamente atacado Roma e o "Sumo Pontífice", com a mesma energia que sempre combateram a devassidão da época:

- O escândalo começa por Roma e corre por todo o continente. São piores que os turcos e os mouros...
Os sacerdotes vão por dinheiro ao coro, às festividades e ao ofício; vendem as prebendas, vendem os sacra­mentos, negociam com as missas; em uma palavra: tudo fazem pelo dinheiro... Este veneno acumulou-se de tal maneira em Roma, que a França, a Alemanha e todo o mundo se contagiaram; e chegou a tal ponto que é necessário prevenir-se contra Roma. Entre o povo circula uma frase que diz: "Se queres perder teu filho, faze dele um sacerdote!"


O Papa resolveu tomar providências enérgicas contra Savonarola. Primeira­mente dirigiu-se ao governo de Florença, e solicitou-lhe fosse enviado a Roma o mon­ge revolucionário.
O governo florentino de­clarou que não lhe era possível cumprir se­melhante pedido, "não só porque" - disse - "faríamos algo indigno de nossa Repúbli­ca e injusto contra um homem que tem trazido tantos beneficiou à Pátria.
Além do mais, ainda que quiséssemos, não podería­mos fazê-lo sem que houvesse uma revolta popular com grave perigo para muitos, tal e tão grande é o prestígio que esse frade ga­nhou com sua integridade".
Mas o Papa estava disposto a lutar e fazer calar, de uma vez por todas, o "chicote do Senhor".

Do púlpito, Savonarola comentou o inci­dente:

- Chegou de Roma um breve (decisão papal), é verdade. Nele, chamam-me de fi­lho da perdição. Aos que me acusarem diante de vós, queridos irmãos, respondei assim:


"Aquele a quem tu chamas deste modo diz que não possui mancebos nem concubinas, mas apenas prega o Evange­lho de Cristo. Seus irmãos e irmãs espiri­tuais, e todos os que escutavam a sua dou­trina, não andam buscando esses tristes deleites, mas temem a Deus e vivem ho­nestamente".

O Papa anunciou então que Jerônimo Savonarola estava excomungado da Igreja Romana, e utilizou-se em seguida de um meio que se mostraria extremamente efi­caz para arrancá-lo das mãos protetoras do governo florentino: ameaçou confiscar os bens de todos os florentinos residentes em Roma, e boicotar as mercadorias destina­das a Florença.

Nas palavras do historia­dor Alexandre Vicunã:
"O efeito foi mági­co".
"Tanto o embaixador florentino, junto à corte papal, como os comerciantes de Flo­rença, residentes nos Estados Pontifícios, exigiram do Governo de seu país que ace­desse ante a exigência do Papa e entregas­se, de uma vez por todas, o monge rebelde. Por um frade não valeria a pena sacrificar o comércio da República!"

Savonarola foi preso e entregue ao Papa juntamente com seus dois fiéis companheiros, frei Silvestre e frei Domingos, também excomungados. No dia em que o prenderam, esta foi a sua oração:

- "Senhor, eu não peço tranqüilidade, nem que cesse a tribulação; peço-te valor, peço-te amor. Dá-me forças e graça para resistir à adversidade. Eu queria que teu amor triunfasse sobre a Terra. Vês que os malvados se fazem cada dia piores e mais incorrigíveis. É necessário que estendas agora a tua mão poderosa. Quanto a mim, só me restam lágrimas."

Na maior praça da cidade de Florença, uma grande multidão aguarda um espetá­culo.

É noite. O povo florentino está eufóri­co e impaciente. Sobre a fogueira disposta no centro da praça ergue-se uma gigantes­ca forca. Há três laços preparados.

Naque­le local de execução, dentro de alguns ins­tantes, o grande pregador Jerônimo Savonarola e seus dois companheiros de sonhos e lutas serão enforcados e queimados. Ho­mens, mulheres e crianças comprimem-se para assistir à morte de um dos maiores vultos da Igreja.

Alguns meses antes, aque­la mesma multidão vibrava sob o domínio da palavra veemente e cheia de autoridade daquele homem alto e magro, que acabara de chegar ali. Sim.

O grande pregador aca­ba de chegar ao centro da praça.
Nos seus braços e rosto distinguem-se visíveis marcas de tortura.

A multidão silencia por alguns instantes para melhor contemplar sua figura trôpega e sofrida. Após quarenta e cinco dias de tortura e jul­gamento, ele está quase irreconhecível.
Haviam-no maltratado brutalmente.

O seu corpo emagrecido fora queimado com ferros em brasa.
Esticaram seus braços, desconjuntaram suas pernas, dilataram-lhe os músculos, partiram-lhe as veias, distenderam todo o seu corpo no alucinante suplício da roda.
Os que conseguem contemplar de perto sua face pálida e arroxeada, coberta de ci­catrizes que ainda sangram, sentem-se perturbados com o intenso brilho dos seus olhos.

Subitamente a multidão começa a uivar e a aplaudir. Ouvem-se gritos estriden­tes, insultos. O povo delira! Os dois com­panheiros de Savonarola, frei Silvestre e frei Domingos, são obrigados a subir para o alto da fogueira. Ambos também sofreram dolorosos suplícios.
Com movimentos enérgicos, o carrasco faz suas cabeças pas­sarem por dentro dos laços da forca.

A multidão grita furiosamente. Cercado pe­los guardas, emocionado, Jerônimo Savo­narola contempla seus companheiros de martírio e de jornada heróica, cujos corpos agora balançam no espaço! Brilhando serenamente no céu, a lua ilumina seus ros­tos pálidos e transfigurados.

Em poucos instantes, frei Silvestre e frei Domingos es­tão mortos.

Um sacerdote aproxima-se do grande pregador e diz:


- "Vês agora qual será o re­sultado de tua rebeldia?"


Alongando demoradamente o olhar pela vastidão e altu­ra do céu estrelado, Savonarola responde:

- "Muito mais sofreu Jesus por mim."


E não diz mais nada. Instantes depois seu corpo é projetado no espaço.


Finalmente haviam conseguido emudecer aquela voz que, poderosa e indignadamente, comba­tera o pecado.


A grande fogueira começa a arder, envolvendo os três corpos. Seus vul­tos de labareda rompem-se sob o brilho da lua que erra no céu, sonâmbula, coroada de auréolas rubras. Naquela noite, aqueles três homens alcançaram a altíssima paz!


Fonte: Texto extraído do Livro; Eles andaram com Deus de Jefferson Magno Costa.

Um comentário:

  1. Paz querido! Concordo plenamente com o que vc falou! A nossa realidade é realmente triste.Temos que nos apegar mesmo somente em Deus.Já estou te seguindo! Obrigada por seu carinho! Se Deus quiser irei e voltarei em paz da minha viajem! Um abraço e ótimo fim de semana!

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Irmão (ã), mano (a), leitor (a)!!!

Traga uma palavra para nós, se fosse uma tribuna e um púlpito aposto que você traria!?

Se não tiver um blog, pode usar a sua conta do google, a mesma usada para acessar o orkut, até sua foto vai aparecer e ficaremos te conhecendo ok, no mais.
Nem sempre os posts aqui são de minha autoria e refletem a minha opinião, de qualquer forma pode e deve deixar a sua;

Comente a vontade, mas não a primeira coisa que vier à mente, seja corente faça primeiro uma análise imparcial do texto. Faça uma análise e não uma "asnálise*".

Dicionário Liberdade em Cristo:
O Asterisco*

Asnalisar = Provém de “Asnálise”, que acontece quando ao se deparar com um texto que é contrário a nossa opinião, se lê e asnaliza mal e porcamente, contextualizando a leitura sem exegese bíblica apurada e imediatamente apelando para versículos isolados e que somente afirmam o que pelo tal leitor já é conhecido como doutrina sendo um grande e exaustivo exemplo o:
Não se toca no “ungido de Deus” Então se faz uma “asnálise” uma análise com a mentalidade de um asno...

Boa análise! Ou asnálise? Você é quem sabe...

Ah mais uma coisa não mais publicarei comentários de anônimos, querendo que sua crítica (99% dos anônimos, criticam e sugerem)seja publicada, não se esconda atrás do anonimato,como já disse use sua conta do orkut (google), afinal quem não tem uma hoje em dia, mas caso não tenha, coloque seu nome e sobrenome, mas comente e faça este velho blogueiro feliz...